Fonte: O Mirante
30/11/2011
– A partir de 1 de Janeiro de 2014 o preço das ajudas à produção de arroz e de tomate da Política Agrícola Comum dá um trambolhão no sentido da convergência dos apoios europeus à agricultura. Sendo duas das culturas com apoios mais elevados, espera-se uma quebra de rendimento dos produtores nacionais dessas culturas de regadio. O aviso foi deixado pelo professor do Instituto Superior e Agronomia de Lisboa, Francisco Avillez, durante um workshop “O novo quadro da PAC para 2013 _ Impactos na produção de matérias-primas para a indústria agro-alimentar _ O caso específico do Arroz e do Tomate” realizado em Coruche.

Francisco Avillez defendeu que os agricultores devem fazer lóbi, em conjunto com as suas associações, junto dos políticos e de quem negocia as ajudas da PAC para se tentar amenizar os impactos dilatando a convergência dos subsídios no tempo. “É uma enorme pancada a que se irá sofrer entre os produtores, especialmente de arroz, logo no primeiro ano e de forma gradual até ao quinto ano, em 2020. Arroz, tomate e leite são sectores que se devem organizar e começar a dar as suas opiniões e discutir esta matéria”, sugeriu Francisco Avillez.

Presente na sessão, realizada no Observatório do Sobreiro e da Cortiça, perante duas dezenas de produtores, Carlos Lopes de Sousa, presidente do Cluster Agro-Industrial do Ribatejo, defendeu as vantagens da adesão ao cluster agrícola como forma de ganhar dimensão e influenciar as linhas de acção estratégicas do Governo sector agro-industrial.

O agro-cluster é uma organização de fileira. Quer dinamizar acções de cooperação entre empresas, instituições e entidades e começa a ver-se o resultado dessas apostas e o que cada actor ganha em juntar-se a este projecto”, defendeu Carlos Lopes de Sousa.

Entre os produtores, especialmente de arroz, e seus representantes a preocupação é grande. José Fernando Cabecinhas administra 180 hectares de produção de arroz e considera que a especificidade da cultura não terá hipóteses de competir. “Esta é uma cultura que só nós, os espanhóis e os italianos têm. Estamos nos limites em relação aos nossos solos que já têm grande produtividade. Temos que esperar que não seja tão mau quanto parece e se possa dilatar essa convergência das ajudas no tempo”, defende o participante no workshop.

No Vale do Sorraia há cerca de 1.500 hectares de cultivo de tomate e seis mil hectares de arroz. O presidente da Associação de Regantes e Beneficiários do Vale do Sorraia mostra o mesmo tipo de preocupações, sobretudo o desequilíbrio que se irá verificar entre agricultores europeus com os cortes nas ajudas e o seu cálculo a fazer-se por média de área cultivada.

Os agricultores especializados, que apostam numa só cultura, como seja arroz ou o tomate, vão baixar os seus rendimentos. Está provado que o arroz e as hortícolas não são viáveis se não tiverem esse tipo de ajudas. O risco que se corre é que não havendo opção para essas culturas caímos no abandono e no inculto. Através das suas organizações, os agricultores devem fazer ver junto do poder político e de quem está a negociar estas medidas que se siga por outro caminho”, comentou a O MIRANTE.

Arroz e tomate ocupam mais de 30 mil hectares de produção

Segundo dados avançados por Francisco Avillez existem em Portugal 922 explorações de arroz de 18.900 hectares de arroz dispersos por 22 mil hectares de terrenos. A área média de produção é de 24 hectares. Na produção de tomate, existem 46 explorações com 13 mil hectares de tomate plantado.

Falta capacidade de armazenamento para exportar por via marítima

Produtor de 150 hectares de arroz, António da Veiga Teixeira garante que não há capacidade para aumentar muito mais a produtividade e há sim que pensar em economizar no período que medeia até à aplicação das primeiras medidas.

Na análise da situação, o produtor lembra que as ajudas são decisivas para a mais valia do arroz e acusa os industriais do arroz de praticarem os preços que entendem. “O problema que temos é que 94 por cento do valor acrescentado do arroz é proveniente das ajudas e o impacto é de tal ordem que se não houver um tratamento específico para a cultura do arroz, simplesmente desaparece. Vão ter de arranjar uma compensação para que esta descida não seja tão abrupta. Com seis por cento não se pode fazer nada porque já se está a perder dinheiro”, analisa António da Veiga Teixeira, que fala ainda sobre os preços do arroz em Portugal e da incapacidade para exportar.

O preço do arroz em Portugal está 30 por cento abaixo da bolsa de arroz em Itália, que comanda os preços na Europa, de forma inexplicável. A indústria não se pode ir abastecer a outro lado que não em Portugal e os supermercados não podem comprar senão à indústria portuguesa porque nos outros lados é mais caro do que cá. O arroz é entregue na indústria sem preço. Vendo o arroz que será pago ao seu belo prazer pelo industrial, o que não é aceitável”, explica o agricultor, defendendo que para exportar através do porto de Lisboa seria necessário dispor de armazéns que guardassem vários milhões de quilos de arroz.