Fonte: AgroNotícias
23/08/2012
– A conjugação da baixa oferta no mercado brasileiro, das boas vendas internacionais, importações abaixo do previsto e expectativa de safra menor nos principais estados produtores resultou, nesta semana, num grande avanço das cotações no mercado gaúcho do arroz. A situação de déficit de estoques no Mato Grosso ampliou o cenário altista. A pressão já chega ao governo federal, com um pedido mais intenso de liberação de estoques públicos pela Conab para abastecer às indústrias. No Mato Grosso, o governo estadual isentou as indústrias do ICMS na compra de produto de outros estados e países, mas há quem aposte num PEP do Sul para este estado, apesar de algumas dificuldades operacionais.

O indicador de preços do arroz em casca para o Rio Grande do Sul da Esalq/Bolsa Brasileira de Mercadorias – BM&FBovespa alcançou R$ 34,37 nesta quarta-feira, 22 de agosto, para a saca de 50 quilos (58×10) colocada na indústria, com pagamento à vista. Em dólar, a saca equivalia, pela cotação do dia 22, a US$ 17,02. Assim, a medida que o arroz brasileiro é valorizado no mercado interno, também o País se torna mais atraente para os excedentes do Mercosul. A expectativa dos analistas é de que as importações também se avolumem. Em contrapartida, as vendas externas podem cair a partir de outubro/novembro baseadas neste patamar de preços.

Corretores e indústrias trabalham com a expectativa de que a Conab publique, na próxima semana, edital de leilão de estoques públicos. Não há nenhuma confirmação oficial até o momento e no setor produtivo o argumento é de que o fluxo de beneficiamento no Rio Grande do Sul é normal. Havendo liberação de estoques, os agentes de mercado acreditam que inicialmente serão volumes baixos, de safras mais antigas (2006/07 e 2007/08), de baixa competitividade no mercado pelo alto valor agregado pelo carregamento (custos e taxas de armazenagem, etc…) e de baixa qualidade, cuja função seria mais “psicológica”, do que propriamente de abastecimento das indústrias com arroz do governo.

Todavia, os analistas estão menos otimistas que os produtores. Consideram que os preços do arroz estão “virando o fio”, ou seja, passando do limite no qual vale mais a pena comprar o produto nacional do que importar. A demora do governo federal em publicar a MP que repõe a incidência de PIS/Cofins sobre o arroz importado, ajuda neste sentido. Uma vez assinada a MP, o custo do arroz argentino, uruguaio e paraguaio aumentará em 9,25% para as empresas brasileiras. Aos preços desta semana e ainda sem incidência deste tributo, muitas empresas consideram vantajoso adquirir produto do Mercosul. Segundo informação corrente entre os agentes de mercado, ao menos uma indústria gaúcha está em avançadas tratativas para importar arroz de fora do Mercosul.

No mercado livre gaúcho a referência de cotações é de R$ 34,00 pela saca de arroz em casca de 50 quilos (58×10), com uma retração significativa dos negócios. Enquanto a indústria aguarda a liberação de estoques do governo e busca outros mercados para se abastecer (Mercosul, principalmente), o produtor espera uma alta maior. Alguns estão procedendo a venda de pequenos lotes, negociados caso a caso, seguindo a lógica de vender fazendo média de preços, e já na expectativa de que uma ação do governo derrube as cotações nos próximos dias. As variedades nobres, no Litoral Norte gaúcho, acima de 64×6 estão cotadas a R$ 37,00 e entre R$ 35,00 e R$ 36,00 na Fronteira Oeste (60×8).

Em Santa Catarina o mercado tem preços entre R$ 29,00 e R$ 31,00 dependendo da praça. Surpreendeu esta semana a presença de compradores catarinenses agindo com intensidade na Depressão Central gaúcha. Compradores do Mato Grosso também entraram no mercado gaúcho, alguns já propondo compra antecipada e oferecendo preço fixo para o arroz na próxima safra, acima de R$ 30,00. Nas principais praças do Mato Grosso, que está isentando as indústrias do estado do ICMS nas compras de arroz em casca no Brasil ou exterior, a saca de 60 quilos, com 55% de inteiros acima, com referência na variedade Cambará, superou os R$ 50,00. A falta de produto disponível no mercado estadual é a principal causa desta reação de preços.

Safra

O Irga divulgou nesta quarta-feira que a área cultivada no Rio Grande do Sul para a próxima safra será, na melhor das hipóteses, 1,85% menor, caindo de 1,053 para 1,029 milhão de hectares. Mas, toda essa expectativa está calcada na consolidação das chuvas intensas previstas para setembro/outubro e a recuperação dos mananciais. Caso isso não ocorra, a queda pode ser significativamente maior. A Federarroz, em seu levantamento realizado no início de agosto, mantém a expectativa de uma área cultivada próxima de 900 mil hectares, com queda superior a 10%. Num número as duas entidades gaúchas concordam: estimam a área de soja cultivada em várzea em torno de 250 mil hectares.

Expectativa

Os analistas consultados por Planeta Arroz esta semana consideram que os próximos 15 dias serão muito importantes para a definição dos preços no mercado brasileiro até ainda há fôlego no mercado para alta nos preços, em razão da conjuntura nacional muito favorável a quem tem estoques de arroz. Ainda assim, espera-se para os próximos dias um aumento mais significativo das importações, dificuldades maiores para as exportações, levando em conta as cotações internas, e um quadro mais claro de intenção de plantio, principalmente no Rio Grande do Sul. Qualquer atraso no plano de renegociação das dívidas arrozeiras pelo governo federal, ou movimentação para liberar estoques, também pode afetar este mercado. Por hora, o agricultor está no comando.

Mercado

A Corretora Mercado, de Porto Alegre, indica o preço referencial de R$ 34,50 para a saca de arroz em casca (58×10) no livre mercado gaúcho, com valorização de R$ 3,00 em 10 dias. A saca de 60 quilos de arroz branco é cotada a R$ 70,00 sem ICMS/FOB. Já os quebrados de arroz mantiveram os preços, com o canjicão referenciado em R$ 36,00 e a quirera em R$ 32,00, ambos em sacas de 60 quilos (FOB/RS). O farelo de arroz, FOB/Arroio do Meio (RS), segue cotado a R$ 330,00 a tonelada.