Fonte: Jornal do Comercio
22/08/2011
– Cláudio Mundstock, consultor do Instituto Riograndense do Arroz (Irga) e professor aposentado da Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), é um exemplo de colaboração à melhoria da produção de cereais no Estado e à produção sustentável. Ao longo de sua carreira, Mundstock tem contribuído para a adoção de mais sustentabilidade no campo e à formação de engenheiros-agrônomos e estudantes na área de fisiologia e manejo de plantas de lavoura, com ênfase nas culturas do milho, trigo, cevada, aveia e girassol. 

O trabalho de Mundstock se iniciou em 1969 na Ufrgs, passando pelo ensino na graduação e orientação na pós-graduação. Seu trabalho no campo foi especialmente com grãos, pesquisando as melhores tecnologias para efetuar o plantio de determinados tipos de culturas e solos. Os estudos com nitrogênio, que envolve adubação, e as práticas de cultivo em lavoura são dois de seus campos de atuação que merecem destaque, pois geraram diversas recomendações técnicas para a produção no Estado. 

Nosso trabalho sempre busca chegar aos produtores e melhorar sua produtividade, e felizmente se converteram em recomendações efetivamente aplicadas pelos agricultores“, afirma Mundstock. Ele lembra, ainda, que, na academia, suas pesquisas também têm sido ensinadas, inclusive com a publicação de cerca de dez livros. Os estudos do especialista na Ufrgs focaram precisamente sobre as características fisiológicas das plantas de alimentos, o que possibilita o aprofundamento do conhecimento do seu funcionamento. 

O especialista se aposentou na Ufrgs em 2003 e permaneceu contribuindo nos anos seguintes como professor convidado. Em 2005, afastou-se da academia e passou a atuar como consultor técnico do Irga na área de gestão ambiental, buscando tecnologias mais limpas para a cadeia do arroz. Atualmente, o trabalho de Mundstock no Irga é fundamental para adequar as lavouras de arroz aos preceitos de sustentabilidade ambiental, econômica, social e cultural. Seus desafios são informar agricultores e membros da cadeia do arroz quanto às técnicas de cultivo mais adequadas para produzir e o correto uso de fertilizantes, conservando as propriedades da terra e da água. 

Conscientização ambiental cresce entre os produtores

Cláudio Mundstock percebe que a maioria dos produtores de arroz gaúchos hoje já trabalha atentos aos conceitos de sustentabilidade. No entanto, há exceções, em especial na má aplicação de defensivos. “Um bom manejo de lavoura possibilita a degradação dos defensivos dentro da própria lavoura, sem escorrer ao rio. No entanto, muitas lavouras de arroz ainda são drenadas“, explica. “Felizmente, estamos conseguindo ampliar a conscientização dos produtores quanto à importância da sustentabilidade e da segurança dos alimentos“, observa. 

O consultor do Irga explica que a produção de arroz ainda é vista pela sociedade urbana como fonte de intenso desperdício de água, e isto exige um trabalho de conscientização que tem sido feito através de palestras, divulgação de material escrito e ações educacionais nas comunidades. “Na produção de alimentos, a lavoura de arroz é uma das mais eficientes em termos de consumo de água“, garante. “Para produzir um quilo de arroz, é necessário menos água do que para gerar um quilo de soja ou milho“. 

Como não poderia deixar de ser, Mundstock acompanha de perto os debates sobre o Novo Código Florestal no Congresso. Embora ache que a proposta traga importantes melhorias ao setor agrícola, também entende que se apoia em uma visão errada por parte dos especialistas, que pensam em preservação (isolamento) em vez de conservação. “É preciso verificar qual é a maneira adequada de se conservar a biodiversidade sem prejudicar em espaço a produção de alimentos, assim como a integração do homem com a natureza“, aponta o pesquisador.

Temos que nos preocupar, por exemplo, com o manejo adequado da água dos rios Gravataí e Sinos, que estão em ambiente urbano. Não se pode tirar o homem de sua proximidade“, aponta. O especialista explica que, da forma atual, o Código Florestal não deixa espaço para produzir alimentos. Alem disso, a área agrícola e urbana soma apenas 30% do País, enquanto 70% já são preservados. 

Há 15 anos, Mundstock começou a contribuir com a escolha dos premiados do Prêmio O Futuro da Terra. Quando era presidente do Comitê da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapergs), foi convidado pelo Jornal do Comércio para ser jurado da distinção.