Fonte: AgroNotícias
21/12/2011
– Levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) revela que nas três últimas décadas a área destinada ao plantio de arroz em Mato Grosso teve redução significativa. Porém a produtividade da cultura quase triplicou. Na safra 1977/78 o estado plantou 780 mil hectares (ha) de arroz, obteve produtividade de 1.251 quilos/ha e uma produção de 976,5 toneladas.

No início dos anos 2000, Mato Grosso já tinha diminuído a área plantada em mais de 300 mil hectares, mantendo uma produção média de 1,2 mil toneladas por safra.

De acordo com o técnico em Pesquisa Agropecuária do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de Mato grosso, Pedro Spoladore Reis, a redução no volume de hectares cultivados com o grão no estado está ligada a questão ambiental. 

A área cultivada com arroz começa a ter queda significativa principalmente a partir de 2006, quando a fiscalização se intensifica e passa a existir um controle maior em áreas de abertura. No início da cultura no estado tínhamos em torno de 1 milhão de hectares cultivados, atualmente este número não chega a 140 mil e a tendência é de que continue a diminuir”, afirmou.

O aumento da produtividade se justifica por meio do uso da tecnologia aplicada no cultivo do grão e o surgimento de novas sementes no mercado. “Temos mais produtividade porque o agricultor tem investido mais em adubação e tem a sua disposição sementes de qualidade superior”, informou Reis.

Responsável por 80% do mercado estadual, a variedade de arroz AN Cambará, desenvolvido pela Agro Norte Sementes e Pesquisa, entra neste cenário em 2007. 

O Cambará mudou até a forma de comercializar o arroz. Antes da variedade, quando se falava em preço do grão nos referíamos a um arroz de 50% a 52% de inteiros, agora quando falamos em preço nos referimos a um grão com 58% de inteiros. O agricultor ainda pode colher uma lavoura com uma umidade de 17% a 18%, que se estiver dentro da maturação fisiológica e com ciclo normal, terá alta porcentagem de inteiros, isso, ainda gastando menos com frete e facilitando a colheita”, explicou o engenheiro agrônomo e gerente comercial da Agro Norte, Mairson Santana.

Além de render mais arroz inteiro para a indústria, o Cambará é uma variedade que não acama, o que facilita na colheita, é bom de panela, produtivo e pode ser cultivado em área de soja.

Economia

Outro fator que contribui para a diminuição da área cultivada com arroz em Mato Grosso é a dificuldade que os produtores do grão têm em conseguir financiamento. “As mesmas linhas de financiamento que existem para a soja, milho, algodão estão á disposição do produtor de arroz. A cultura esbarra em alguns entraves do próprio mercado, que não tem a mesma atenção por parte do governo do que o mercado da soja e do milho, por exemplo, o que é um grande erro. O arroz tem uma escala comercial extremamente interessante e que deve ser tratada de maneira diferente”, declarou o economista Wylmor Dalfovo.

Para o economista a questão ambiental também atrapalha na busca por crédito. “Erroneamente a cultura do arroz ainda está ligada ao desmatamento, por ser uma cultura de abertura de área. Existe esse preconceito que deve ser quebrado por meio de esclarecimentos, com Dia de Campo mostrando como funciona realmente o plantio de arroz, o uso do grão em terras degradadas, sua utilização na recuperação de pastagens, frisar também que o plantio de arroz associado a outras culturas gera benefícios ao meio ambiente. Falta por parte do governo políticas públicas que incentivem os produtores a optarem mais pelo cultivo do arroz”, declarou Dalfovo.

Na região do médio Norte de Mato Grosso, apenas uma empresa que oferece linha de crédito ao agricultor. “Sabemos que existe o problema da comercialização do grão e como não existe uma estrutura de hedge [proteção de operações financeiras] para a cultura, acaba também não existindo uma grande estrutura de financiamento para o produtor de arroz, para que ele possa pagar o financiamento na safra com o próprio arroz, como acontece no caso da soja e do milho. Somos a única empresa que realiza esta prática no Médio Norte do estado e a demanda é muito alta, tanto que não conseguimos atender a todos os agricultores”, acrescentou o gerente comercial, Mairson Santana.