Fonte: DCI
04/10/2010 – Ao contrário do cenário de perdas, devido a interferências climáticas, registrado em outras culturas, a expectativa do mercado para o plantio e colheita de arroz no Brasil para 2010/2011 segue promissora. No entanto, enquanto a maioria dos outros grãos está valorizada, as cotações do cereal, mesmo com a pouca oferta no mercado interno, andam na contramão, com tendência baixista.

Segundo Maurício Fisher, presidente do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), a sobrevalorização do real compromete a sustentação dos preços no País.

De acordo com o presidente, o setor espera um avanço no dólar, de pelo menos 8%, passando de R$ 1,68 para R$ 1,82. Caso isso não ocorra, segundo Fisher, o segmento vai tentar desonerar a cadeia junto ao governo federal.

O recuo do dólar para R$ 1,68, registrado nesta última sexta-feira, com dados da Safras & Mercado, representa queda de 4% em relação ao mês passado.

O presidente do Irga aposta ainda, agora pós-eleição, que os preços tendem a se recuperar, mas mesmo assim não vê possibilidade de valorização da saca de 50 quilos acima da casa dos R$ 30.

No Rio Grande do Sul, cujo cultivo de arroz para a temporada 2010/2011 está em 5,5% da área destinada ao cereal, segundo Fisher, a saca está cotada a R$ 26, enquanto o custo de produção gira em torno de R$ 29. “Sem contar o mínimo de R$ 25,80 que também está abaixo do custo“, diz.

Levantamento do Irga, aponta uma produção de arroz no Rio Grande do Sul para o ciclo 2010/2011 de 8 milhões de toneladas. O Brasil, de acordo com estatística da Safras deve colher 13,07 milhões de toneladas. Em 2009, os gaúchos responderam por uma produção de 6,88 milhões de toneladas de arroz, queda de 13% ante a safra 2008/2009.

Para Élcio Bento, analista da Safras, a fraqueza nos preços do arroz no mercado brasileiro ocorre também em função de um abastecimento global tranquilo.

Com o real mais forte, segundo o analista, as importações são favorecidas e obrigam os preços no Brasil a recuar ainda mais.

O arroz uruguaio, por exemplo, no grão em casca, hoje entra na fronteira do Brasil por cerca de R$ 25 a saca. “As cotações nos principais exportadores permanecem acima da realidade de preços praticados no Brasil e no Mercosul.”

A situação do beneficiado, de acordo com Bento, é parecida. Enquanto o fardo de 30 quilos do produto nacional é cotado entre R$ 38 e R$ 44 em São Paulo, o uruguaio é indicado a R$ 37,18.

Nos Estados Unidos, ainda segundo o analista, a tonelada do arroz beneficiado com 4-5% de quebrados é cotada a US$ 475. Nos fornecedores do bloco comum do Sul, a tonelada do produto está acima de US$ 500.

Com isso, segundo Bento, a importação do arroz norte-americano, especialmente para o norte e nordeste brasileiro continua sendo uma possibilidade. “Cada vez mais o mercado brasileiro fica refém de uma alta internacional consistente para voltar a operar com mais firmeza.”

A Argentina, o Uruguai e o Paraguai, que estão com dificuldades para entrar em terceiros mercados, ainda de acordo com o analista, aproveitam as vantagens concedidas para negociações intrabloco e concentram suas vendas no Brasil.

O gargalo da capacidade competitiva do arroz brasileiro no mercado externo, além da questão cambial, para Fisher está no custo de produção nacional ante o de outros países produtores.

Segundo o presidente, os Estados Unidos cultiva arroz com custo de US$ 1,3 mil por hectare. A Argentina consegue plantar o cereal com US$ 1,7 mil por hectare, e o Uruguai, com US$ 1,6 mil. No Brasil, o agricultor precisa investir US$ 2,3 mil por hectare.

Mesmo assim, o Irga espera alcançar a meta de embarcar 10% da produção do Rio Grande do Sul. Embora, se levar em consideração os últimos quatro anos, apenas em 2009 esse índice foi atingido, quando o Brasil exportou quase 900 mil toneladas do arroz gaúcho.

De acordo com Fisher, este ano o País deve embarcar 300 mil toneladas. Para 2011 a estimativa é de uma aproximação da meta, com uma exportação de 600 mil toneladas de arroz. “Precisamos de açõespolíticas para crescer“, afirma o presidente do Irga.